Destaque

"Lisbon,
Three centuries After, the double entry"

18 and 19 June 2015
Lisbon

Conference

IV Internacional Conference on Luca Pacioli in Accounting History


“Lisbon, Three Centuries After The double entry bookkeeping”


18 and 19 June 2015, Lisboa


A Comisión de Historia de la Contabilidad da Asociacion Española de Contabilidad y Administracion de Empresas, por iniciativa do respectivo Presidente, Professor Esteban Hernandez Esteve, começou em 2009, a comemorar a data do falecimento de Luca Pacioli, a qual ocorreu em 19 de Junho de 1517, segundo documento presente no Convento de Santa Croce em Florença. E convidou a APOTEC, por intermédio do seu Centro de Estudos de História da Contabilidade, a organizar agora em Lisboa, em 2015, o IV Encontro Luca Pacioli.

Em termos de contas, o século XVIII em Portugal ficou marcado por duas importantes datas: a fundação da Aula do Comércio em 1759 e a adopção das partidas dobradas para a escrituração das contas do Reino com a criação do Erário Régio em 1761.

A nossa bela Lisboa, à beira do majestático Tejo, não é só uma cidade antiga, é uma cidade sem tempo, tão longe os seus lugares se perdem naquilo que nós portugueses designamos por brumas da memória.
A lendária Olissipo, a romana Felicitas Júlia Olisipo, a muçulmana Ushbuna, a setecentista Lixbona, todas se fundem numa só, a Lisboa que chega a 1755 e sofre o terrível terramoto. E que se levanta dele, mais forte e mais bela do que nunca e que dois séculos e meio depois aí está aos olhos de todos.

Os portugueses, que foram protagonistas na Europa da fase dos Descobrimentos, provavelmente souberam das partidas dobradas de Luca Pacioli e aplicaram o método, muito antes do século XVIII, mas se assim foi, até à data não temos conhecimento.
Assim, de obras conceptuais sobre as contas e as partidas dobradas, de autores portugueses ou escritas em português só se tem conhecimento de muito poucas: em 1706, com o “Norte Mercantil e Crisol de Contas…” de Gabriel Sousa Brito, editada em castelhano nos Países Baixos; depois em 1758 o  “Mercador Exacto nos seus livros de contas, ou methodo facil para qualquer mercador… pelos Princípios das Partidas Dobradas” de João Baptista Bonavie; outra ainda de autor anónimo, em 1764, “Tratado sobre as Partidas Dobradas…” editada em Turim e em língua portuguesa; e temos finalmente o manuscrito de João Henrique de Sousa, que foi o primeiro lente da Aula de Comércio e o primeiro escrivão do Tesoureiro-mor do Erário Régio (cópia de 1765).

Mas, se não se encontraram até hoje, Tratados sobre Partidas Dobradas desse período, desde o século XVI que se foram editando obras sobre Aritmética, as quais constituíam a ciência madre para os negócios, sendo logo a primeira em 1519 de Gaspar Nicolas, intitulada “Tratado da Prática de Arismetica”.

No século XVII português, com a restauração da independência em 1640 foi a crise económica que influenciou a primeira revolução manufactureira de inspiração mercantilista, protagonizada pelo Conde da Ericeira no último quartel do século; já a  segunda revolução manufactureira aconteceu no faiscante reinado de D. João V nas décadas de 20, 30 e 40 do século XVIII, antecedendo  o proteccionismo pombalino e criando condições para a escrituração por partidas dobradas, como aconteceu por exemplo com a Fábrica das Sedas a partir de 1734, estando livros à disposição nos Arquivos Nacionais da Torre do Tombo.
Entretanto o liberalismo de D. João V produzira um Aqueduto – das obras mais magníficas na Europa - e uma aposta ganha no Patriarcado lisboeta.
As Cortes com os três Estados presentes, tinham reunido pela última vez em 1697-98 e não mais iriam reunir até à revolução de 1820. Os tempos do Absolutismo, ao longo do século mantinham assim o mesmo estilo, embora com actores tão diferentes como D. João V e o Marquês de Pombal, alterando-se entretanto, profundamente as condições do contexto económico e ocasionando as opções que após o terramoto foram ainda mais privilegiadas pela personalidade de Pombal, que procurou reorganizar a sociedade portuguesa dentro do Absolutismo, mas segundo novos parâmetros.

A Aula de Comércio e o Instituto do Erário Régio, contemporâneos um do outro, serviram para institucionalizar a forma de fazer e apresentar as contas, pelas partidas dobradas; partidas dobradas que estavam já presentes nos livros de contas das casas de negócio lisboetas, e mesmo portuguesas, pelo menos da primeira metade do século XVIII.
E tudo isto seguindo a obra de Luca Pacioli, "Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalità", pela primeira vez impressa e editada em 1494 em Veneza. E para poder valorizar devidamente a obra que nos legou, temos de nos situar no tempo e no espaço em que Pacioli viveu.

Assim hoje, em 2015, nós, aqui em Portugal e em Lisboa, contabilistas e historiadores, apenas cobaias do nosso tempo, estamos a celebrar a data da morte de Luca Pacioli, o tal monge que, quem sabe? Aspiraria a ficar na História sim, mas pela filosofia do número dourado, na construção da Divina Proportione.
O homem é também a sua condição, e no passado, no presente e no futuro, eis as malhas que a vida tece.

Manuel Benavente Rodrigues